Toda manhã de sexta feira ele vem pra “aula” de flauta doce.
Primeiro a professora jovem ouve a cada um, no som das palavras.
Depois ouve o som da flauta, em sua fragilidade solta, em sua vontade de tocar.
Cada menino e menina vão aos poucos decifrando sinais contidos na pauta, desenhando notas musicais, brincando com o compasso, como as horas em suas vidas de meninas e meninos.
Ele tem evoluído em suas aulas e treinado bem, um som agudo.
Ontem, um amigo seu chegou de repente e disse que eles não viria mais.
A sua mãe, irritada com aquele som de flauta repetitivo e irritante, havia quebrado ao meio a sua pequena e frágil flauta doce.
Ele chorou o dia inteiro – confessou seu amiguinho à professora de flauta, jovem e paciente.
Hoje pela manhã ele apareceu falando como quem não se afetara inteiramente por aquilo, sisudo e meio evasivo, pra não chorar.
De forma que, disse em tom de desprezo, ah, eu saí e comprei outra flauta no “1 e 99”, com o dinheiro que minha vó me deu.
Foi aí que soubemos que a terra não seria destruída naquele dia, pelo nefando cotidiano.
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