CARAMELOS

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NO TEMPO EM QUE ENTERRAVA CARAMELOS

Ele se mudara para a cidade sem saber direito porque.
Mas o fenomeno da mudança provocava coisas boas, que novas amizades surgiam e um mundo de novidades apareciam como flores da noite pro dia.
Lembra ele que era 1972 e o avô tinha uma “vendinha”, um comercio de coisas que variavam entre farinha, milho, pilhas, temperos e caramelos.
Um rádio fez que ele até hoje se lembre de Gilberto Gil, cantando “ananauêeoo, auêá, auê! que falta eu sinto de um bemm…” canção que marcava a volta de Gil do exílio.
Mas pra ele, que fazia dez anos de vida, o universo da cidade encantava, pois nunca vira tantas ruas, tantos rádios, tantos desenhos nos muros e tantos padeiros gritando o pão da manhã.
De modo especial ele lembra que ganhava do seu avô, um monte de caramelos que dava pra encher a mão. De modo que ele – sabe-se lá porquê – aproveitava pra enterrar na terra do seu quintal e muitas vezes no quintal da venda do seu avô, os caramelos que ganhava.
No outro dia, cedinho, vasculhava a terra, contava feito mina de ouro, os caramelos guardados na natureza.
Era uma viagem.
Na superficie da terra os caramelos surgiam, feito brotos de plantas, feito planta que vinga, depois da noite de sereno e segredos, que nem a maquina futurista faz registro, nem a cigana podia advinhar.
Assim ele vivera, entre uma lembrança e outra, feliz, do tempo em que enterrava caramelos.

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