Ele lembra como se fosse hoje, quando a sua avó nas noites de lua cheia chamava-os para ouvir as suas histórias, no centro da casa de chão batido.
Ela dizia em tom de sabedoria:
– Meus filhos, vai chegar um dia, em que o copo de água será vendido. Quando alguém pedir “me dá um copo d’água”, o dono do local vai responder “é tantos mirréis!”.
Ele ficava a imaginar, como alguém vai vender água, uma coisa que brota ali da terra, segue livre pela montanha, diminui com a seca e enche com as chuvas…é tão natural chega ser sagrada?
Noutros dias ele ficava indignado com a sua mãe que insistia:
– Menino, não toma banho naquele rio que ele está doente!
Mesmo assim ele e os outros meninos seguiam em segredo, escondidos dos seus pais para um lado do rio onde ninguém percebia e lá se encharcavam de alegria e de viagem matinal.
Passados os anos, o rio havia deixando de lembrança, uma herança maldita em órgãos vitais dos corpos de alguns daqueles meninos.
Hoje muitos rios e corrégos estão entre a vida e a morte também, como muito daqueles meninos.
Os Rios estão ameaçados, desde a sua nascente até a sua foz por um conceito chamado “progresso.”
São muitos os rios sepultados nas cidades.
Já as veias aquíferas da terra estão sendo alvo de negociações, clamando por ajuda.
Depois de um tempo – já não tão menino assim – Ele ouviu falar dos veios de água que correm embaixo da terra, dos aquíferos e lençóis freáticos ameaçados.
Ele decidira então ser um protetor das águas. Um agente protetor das águas.
E saiu por aí, como João Batista quando jovem, a falar da necessidade de se proteger as águas.
falar para todos ouvirem e aprenderem.
Aqueles que acreditam e aqueles descrentes.
Porque um copo d’água pode salvar uma vida.
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