A província de Cajamarca no Peru tem protestado há meses contra a instalação do maior empreendimento mineiro do país em seu território. O Projeto Conga destruirá as quatro principais lagunas da província, que têm relação com as nascentes dos rios, pois se encontram a uma altitude de mais de 3.700 metros acima do nível do mar. O projeto da empresa Yanacocha vai explorar cobre, ouro e prata.
O próprio estudo sobre os impactos ambientais reconhece que a mina “representa uma variação dos níveis de infiltração na distorção do fluxo hidrológico como um resultado das barragens que cortam quase que inteiramente o fluxo de águas subterrâneas”. Trata-se portanto de um projeto altamente impactante em uma ecossistema extremamente frágil. Por isso, o próprio governador provincial convocou uma greve contra o projeto.
A grande mobilização, no entanto, não foi suficiente para sensibilizar o governo nacional e a empresa Yanacocha. Ao contrário, o pacto entre a mineradora e o presidente de Ollanta Humala mergulha, há três dias, a província numa dinâmica de terror. Com o assassinato de cinco manifestantes e a prisão de diversos outros, o governo nacional procura arrefecer a resistência e viabilizar os planos da empresa. Esse é mais um caso onde se criminaliza os protestos sociais em nome de um suposto desenvolvimento.
Mas é possível que os tiros tenham saído pela culatra. O massacre de Cajamarca vem ganhando repercussão internacional e fortalecendo o lema dos ativistas locais: Conga no va. Os acontecimentos no Peru revelam uma dinâmica muito viva em toda América Latina, onde os interesses das grandes mineradoras estão acima da preservação ambiental e da vida daqueles que vivem e usufruem dos territórios.
Infelizmente, esse processo é levado adiante por um governo dito progressista. Apesar de seus discursos de esquerda, esses governos aprofundam o modelo primário exportador e submetem cada vez mais territórios à exploração mineral. A promessa de desenvolvimento tão propalada se mostra cada vez mais sequestrada pelas grandes corporações e não aponta para um horizonte muito distinto daquele experimentado nos últimos séculos. Esses assassinatos e prisões no Peru servem como alerta: esse progresso e esse desenvolvimento são contra os interesses dos povos.
De vários cantos da América já é possível ouvir o grito contra os grandes empreendimentos mineiros. Que esses tristes acontecimentos em Cajamarca sirvam como um alerta. Que cesse o rastro de destruição e mortes causadas pela mineração. Que os territórios sejam geridos por quem vive nele e não por aqueles que vivem dele
Fonte: canalibase
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