Região é Dividida em dois territórios
A III Caravana da Secult Bahia começou no dia 18 de março em Teixeira de Freitas e termina dia 24 em Porto Seguro. Essa missão é definida pela própria secretaria estadual de cultura como: momentos que, além de aprofundar o conhecimento sobre os territórios, possibilitam que a Secretaria formule e desenvolva políticas culturais qualificadas e sintonizadas com os territórios”, afirma Rubim. A ação pretende ainda detectar os agentes de cultura e manifestações culturais mais expressivas de cada território e aproximar a população da política cultural que vem sendo desenvolvida pelo Estado. Leia mais sobre a programação aqui.
Em uma região dividida em dois territórios de identidade e com as mesmas características sócio-ambientais, o extremo sul da Bahia tem uma rica diversidade cultural. Recentemente a Superintendência de Estudos econômicos e Sociais da Bahia – SEI lançou uma publicação com informações e análises sobre os territórios baianos de identidades, disponível no site da superintendência onde enfoca os aspectos culturais do extremo sul e os seus fenômenos culturais nas últimas décadas. Com a divisão, a chamada Costa do Descobrimento ficou com 08 municípios e o extremo sul, com 13 municípios.
As realidades são parecidas em muitas coisas. Sob o ponto de vista do poder público municipal, são poucas as cidades que tem secretaria de cultura e a maioria tem departamentos em outras pastas das administrações locais. Os fatores que explicam essa situação são a falta de conhecimento das politicas culturais e desinteresse, além da falta de pessoal capacitado para implementar um programa mínimo que seja. Os prefeitos recentemente empossados tem tudo para mudar esse quadro se fizer um pequeno esforço, já que o contexto nacional e estadual possibilita aportes econômicos que vai desde programas advindo de emendas parlamentares até projetos de estudos e capacitação de pessoal para atuar em politicas culturais. É um contexto favorável, que inclui os processos de construção dos sistemas de cultura nos estados e munícipios. A força da lei vai ajudar a muitos prefeitos do extremo sul da Bahia cair na real e ver que as culturas locais são importantes vetores do desenvolvimento.
Por outro lado, a região também tem muitos grupos de cultura, artistas e produtores culturais que ainda não acompanham essa discussão das politicas culturais e espera os projetos caírem dos céus. Porém o que temos mesmo são os grupos culturais com muita resistência e que sobreviveram a todo tipo de agressão desenvolvimentista e a violência institucionalizada, cujo estado consentiu e foi conivente com a agressão ás culturas tradicionais, o preconceito contra os saberes populares de origem afro-indígenas, a capoeira e as religiões de matriz africanas.
São estes grupos, que independente do estado, sobreviveram, e agora recebem a III Caravana Cultural da Secult Bahia, representado pelo governo Wagner. São estes grupos, de pessoas do povo que tem uma expectativa, porque afinal a comitiva do Secretário não veio somente ver as danças, as musicas, as performances teatrais; nem veio conhecer os novos prefeitos, nem inaugurar nenhum centro de cultura mega, ultra moderno. A Secult deve ter vindo olhar de perto os grupos e movimentos culturais que sofrem e não tem nada para enfeitar as bandeiras nem os atabaques, nem tem a segurança para afirmar que ano que vem vai sair na avenida, ou fará novo espetáculo. A Secult deve vir para anunciar que está mudando o formato dos editais e que facilitará um a um o acesso aos editais, ao entender como funciona e vivem os grupos populares nas cidades do extremo sul.
A Secult vai encontrar poucas bibliotecas, poucos lugares que guardam a memória viva dos seus moradores, porque as cidades foram tomadas pelos trabalhadores das empresas que plantam eucaliptos e abastecem as fabricas de celulose, porque os moradores fugiram da fome e habita o bairro “Baianão” em Porto Seguro. A Secult não vai ver cinema e os museus que visitará será os da maldita colonização que não merece nenhuma reverencia, ao contrário, deveria ser mostrada para o que não gostaríamos que fosse a história. A Secult poderá descobrir, se quiser, que a chamada economia criativa do Sebrae é uma falácia e o termo emprego e renda é tão raso quanto o futuro dos jovens em cidades como Eunápolis e Teixeira de Freitas. Se a Secult fizer um pequeno esforço, terá a sensibilidade de perceber que muitas apresentações culturais serão alegorias ante a riqueza vital e espontânea dos grupos culturais da região, mas não é toda década que um secretario de cultura visita uma região. Aos cotovelos, prefeitos, vereadores e chefes de departamentos devem querer levar o secretário para inaugurar alguma obra. Este é o gesto que menosprezará a boniteza da Caravana e deveria ser evitado. Mas o poder público tem dessas coisas. O protocolo deve ser cumprido.
As lições tem sido muitas e as experiências enriquecem a cada um da Caravana. Quem sabe este acúmulo de experiência, imagens e reinvindicações sejam bem aproveitadas para apoiar verdadeiramente os grupos culturais.
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