Da mentira
Na sala a professora pede que os alunos – jovens adolescentes – teça comentários sobre os índios. Os alunos então fazem um pequeno texto dizendo: ´os índios viviam pelados pela floresta, usam penas e cocares; são belos e utilizam arco e flecha para caçar, comem mandioca e moram em ocas.’ Ponto final.
Findada a aula, todos vão felizes para as suas casas.
A professora, vê e ouve a notícia na TV sobre os Tupinambá da Serra do Padeiro e comenta: – esses vagabundos, nem índios são, roubam e cometem violência contra quem trabalha, quem produz neste país!
Numa família em Buerarema, os alunos da professora que fez a atividade sobre os índios brasileiros falam em voz alta: ‘esses nêgos nunca foram índios, eles moram em casas normais, usam computador e tem relógios! Ficam invadindo as terras dos outros!
Eis a escola e a família brasileira. Infelizmente ainda é esta a realidade na historia do nosso país, que renega as suas origens e desvaloriza o seu povo.
Parece que quanto mais perto da aldeia, a população local desconhece e discrimina a historia do povo indígena.
Não é necessário aqui descrever sobre a presença dos povos originários nestas terras e sobre os seus direitos que há séculos são desrespeitados; tantos anos de opressão não calou a voz nem extinguiu direitos, apesar de inúmeros povos desaparecerem por causas das guerras que o conquistador cruel imprimiu sobre os povos livres.
Porém mesmo os que se dizem mais conscientes e que conhecem a história, parecem se distanciar da realidade atual em que vivem as comunidades indígenas e com isso negam direitos, duvidam da capacidade dos indígenas ou fecham os olhos para os acontecimentos bem perto de nós.
O estado brasileiro é quem mais incentiva o crime e a violência contra os povos originários, ao não garantir os direitos e deixar sem proteção tantos povos. Ao contrário, a sua polícia agride e promove a violência em diversas regiões onde a luta indígena é mais aguda, denotando conflitos. Mesmo assim, cabe ao estado garantir e proteger.
Diante disso, os povos, suas comunidades e lideranças indígenas só têm a alternativa da luta ferrenha, aquela em que o front é constante e a escaramuça permanente, no combate aos inimigos. É a guerra. Combater a desinformação a que está submetida a população regional e é levada a agredir aos seus irmão indígenas e a defender a suposta autoridade patronal, latifundiária e eleitoral; combater a violência institucionalizada presente na ação policial, na sala do judiciário e nas bancadas do legislativo local, estadual e nacional; combater a violência dos pistoleiros, desintegrar a sua suposta potência, atacando os seus mandatários, infligindo derrotas em suas famílias e em suas economias. Multiplicar guerreiros na mesma proporção que mensageiros de paz. Manter o estado permanente de guerra na mesma proporção em que exige o respeito ao direito e respeito às expressões de paz e da diversidade cultural. Amplificar as vozes de suas mulheres e crianças, seus aliados e parceiros, suas memórias de ontem e de hoje. Plantar a memória no futuro.
Se assim não for, muitos séculos de opressão ainda perdurará contra os Tupinambá de Olivença, Os Guarani ou os Xukuru.
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