Manifesto Cultural do Viola

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SEMANA DE ARTE DO VIOLA – EUNÁPOLIS BAHIA

Senhoras e senhores boa noite,

Que bom que estamos começando a oitava edição da Semana de Arte de Eunápolis, assim, construída na marra neste país, cujos índices de violência contra os negros e contra as mulheres são alarmantes. Agora mesmo a anistia internacional divulgou a violência contra lideres de movimentos sociais e ambientais. Ou seja, o golpe contra a democracia que tirou na presidência uma pessoa eleita legitimamente, criou um clima de tensão e fragilidade. O bom de que falamos no início é que estamos de pé, resistindo com todos juntos celebrando a luta.

Quando o ano começou, vimos que a situação nacional da política cultural seria de ameaça e perdas das conquistas dos últimos anos, apesar de o governo estadual manter as linhas de ação herdadas das conferências nacionais e estaduais de cultura. Mas é real a ameaça aos direitos culturais em geral, porque o Plano Nacional de Cultura(PNC) que instituiu o Sistema Nacional de Cultura através de Lei federal vem se enfraquecendo, assim como muitos dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, em consequência do golpe instalado em Brasília.

Já em Eunápolis, a política pública de cultura é uma quimera e nem ações pontuais são realizadas, que demonstrasse minimamente uma vontade, um esforço para justificar o injustificável, lamentavelmente. Então é impossível haver sintonia entre o que está se desmantelando a nível nacional, o que vem se construindo no plano estadual e o que é só rastro de poeira em nível municipal. Impossível a confluência de esforços, no plano do poder público, apesar das leis da cultura aprovadas em todas as esferas.

É ai que entra a luta dos movimentos sociais, do movimento cultural pro caso da cultura, para balançar as estruturas, fazer valer direitos e abrir os caminhos da revolução.

Esta oitava Semana de Arte – que tem como tema “Patrimônio cultural, nosso bem comum” – está acontecendo graças ao esforço de pessoas que se conhecem, de pessoas que nem se conhecem mas acreditam e, de pessoas que irão se conhecer por causa do evento. Ou seja, sem fazer disso um espetáculo pirotécnico, sem ter nenhum apoio do estado ou do município, nem de empresas que faz propaganda salvacionista de ajuda social e desenvolvimentista, estamos realizando a Semana de Arte contando as moedas solidárias, quais sejam: o companheiro que fez a arte do cartaz, a moça ilustradora que fez o Folder, os voluntários do Viola de Bolso, as notícias nas redes sociais, os artistas que farão shows e sabem que não terão cachê; e cada pai e cada mãe que confia seus filhos nas oficinas de artes do Viola.

O único mérito que o Viola de Bolso deseja, é o de possibilitar os encontros de uma juventude bonita, de seus grupos e coletivos culturais, os momentos das crianças juntas inventando a alegria do outro, as reflexões sobre a produção literária e o alerta para o cuidado com a nossa memória e o nosso patrimônio cultural, as coisas belas que criamos, que sentimos, que rezamos, que vestimos, que comemos, que cantamos.

E sem porquê, destruímos. Por isso é importante rever atitudes e refletir sobre o papel de cada um, do estado e da sociedade na proteção dos bens culturais, aqueles bens que tocamos com as mãos, aqueles que miramos e só de olhar alegra, ou aqueles bens que não vemos, que nos envolve em mistérios e nos abre o portal da origem, desde os tempos de África, desde antes dos colonizadores malditos chegarem a essa terra.

Mas não precisamos ir tão longe. Basta cuidar, valorizar, reconhecer e proteger o nosso bem comum daqui: as habitações que ainda resistem ao tempo do começo da cidade, o nome das ruas, o marco zero, as narrativas dos primeiros moradores, as benzedeiras, as parteiras, os alfaiates, as Feiras, o cinema, o antigo cartório, o clube social, os terreiros de candomblé, as igrejas, o que foi e o que permanece de pé, rebuscado pela memória. Uma comunidade que não valoriza o seu patrimônio cultural, corre o risco de perder direitos e identidade. E de ter o seu povo, triste e subalternizado. Cuidar do nosso bem comum é cuidar do nosso povo e de sua cultura.

Ainda estamos longe de poder afirmar que existem políticas públicas de cultura em nosso município. Assim como ainda é frágil a nossa democracia brasileira. A cidadania cultural, a democracia, a garantia dos direitos básicos de saúde e educação são pilares para uma nova sociedade. Mas a cultura é vital. E dela nascerá a revolução de que precisamos.

Por isso estamos aqui dizendo para você, para nós mesmos, que acreditamos nisso, porque assim será. Viva a cultura viva!

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