
Eunápolis expandida, não mudou a sua história, repetiu o passado
Conhecer a história da cidade de Eunápolis, seja nas narrativas dos seus moradores, seja no registro organizado dessa narrativa e complementado por outros meios de registro, fotográfico, documentos de cartórios, dos anais do executivo ou do legislativo, além de livros de pessoas que se debruçaram sobre a história local, é muito importante.
Mas é preciso ir além: é necessário analisar os fatos, compreender os fenômenos e as visões de quem traz essa narrativa, sobretudo, ter o cuidado em dividir e discernir o que foi a história de criação da cidade e o que que foi a emancipação política-administrativa, que trouxe de uma vez por todas o horizonte de crescimento e gestão que a cidade tem hoje.
Uma parte da história não pode ser contada em detrimento da outra, cada uma tem o seu tempo e seus sujeitos históricos que merecem destaques. Por isso a narrativa por si só não revela os fatos históricos. Aliás no caso de Eunápolis, a contradição é latente, visto que só falamos da história da cidade{as mídias, os jornais e sites}, quando celebramos anualmente o 12 de maio/1988, como se um ato administrativo{o decreto de emancipação} fosse maior que o ato fundacional{sujeitos, homens e mulheres se aventurando na gênese do local}. Sem contar, a ausência de qualquer crítica ao processo desenvolvimentista, que sucumbiu culturas tradicionais, pilhou a floresta e expulsou com violência o campesinato territorial. Observem a narrativa abaixo, em que o autor traça a evolução fundacional, depois foca no ‘progresso’ com a chegada da rodovia federal BR 101, na década de 1973 e dispensa minimamente três linhas finais{inclusive, parece copiada de algum texto}, para o contraponto:
“Esse ciclo virtuoso de progresso tornava Eunápolis, então denominado de “maior povoado do mundo”, o grande provedor de produtos e serviços da região. Porém, foi em 1973, após a construção da BR 101, que Eunápolis e região vivenciaram um dos seus mais importantes ciclos econômicos, o ciclo madeireiro. Durante esse período, centenas de serrarias foram instaladas, cortando árvores – tanto as espécies mais valiosas quanto as menos valiosas espécies da mata atlântica – e transformando-as em troncos que eram vendidos para várias partes da Bahia e do Brasil.
Os capixabas foram maioria entre os fomentadores desse ciclo, que promoveu uma verdadeira transformação na economia local e regional: propiciou o povoamento da região, com a criação de núcleos habitacionais, gerou milhares de empregos diretos e indiretos, atraiu novos empreendimentos, empreendedores, investimentos e milhares de novos moradores. Abriu ainda as cidades litorâneas ao turismo, fortalecendo-as economicamente e desenvolvendo-as, especialmente Porto Seguro, viabilizando a transformação do denominado “sítio do descobrimento” num importante destino turístico nacional.
O progresso trouxe, porém, conseqüências: efeitos negativos que também marcaram o extremo sul e seu povo. Danos irreparáveis, tanto ao meio ambiente, quanto ao ser humano, com o crescimento da violência nas cidades e no campo.”
Site Bahia 40Graus http://bahia40graus.com.br/index.php/eunapolis/item/6925-a-hist%C3%B3ria-de-eun%C3%A1polis-desde-o-povoado-de-gabiarra-at%C3%A9-a-emancipa%C3%A7%C3%A3o
A linha do tempo pode ser organizada pelo jornalista curioso, pelo historiador, pelo pesquisador interessado em publicar um livro, mas ele não pode ter o receio de tocar a ferida, perceber e revelar as mazelas desse tempo, trazer à luz dos dias atuais as injustiças cometidas, a agressão à mata atlântica, o descaso com os bens públicos e os jogos de interesses que fez da cidade o que é hoje.
E o que ela é hoje? Uma cidade emancipada ou uma cidade expandida?
Algumas pessoas sustentam a tese que, afirmar a história passada, nos traz a segurança e a garantia de seguir um rumo de princípios e de memória cultural que nos dá identidade e une os interesses de um a comunidade, do seu povo. Outros – e parece ser o caso de quem detém o poder em Eunápolis -, criam a necessidade de afirmação do presente, sem levar em consideração os fatos históricos e as suas variantes, para a manutenção do status quo, da relação privilegiada de poder ou até mesmo, o esquecimento de sujeitos e de fenômenos que mostram outra face do processo político decorrido no tempo. Sabedoria está em manter a memória do passado, afirmar o presente, equilibrando as ações que vão comprometer ou não, o futuro.
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