Este poema foi composto quando o poeta colhia arroz junto a outros camponeses em 1984, na beira do rio Buranhén. Um menino contava-lhe como ele via o espantalho que seu pai criara e a raiva que tinha, de ficar ajudando o espantalho – quase um castigo – a se livrar dos periquitos que insistiam em devorar o arrozal. leiam:
ESPANTALHO
Volta ao trabalho espantalho demente
Abra bem os braços, estenda a mão
Pra festa contente dos periquitos em mutirão.
Volta à labuta bicho biruta
Arregala os olhos então
Fazendo de conta que assusta até o aluvião.
Não saia do lugar palha e pano
Que a cor do seu chapéu espinhento
Desbotou de secura e vento neste ano.
Fica contente cara de gente
Pois seu dono te enxovalha e abusa
E te arranja uma camisa nova que te cabe como uma luva.
A camisa é do seu dono corpo inerte
Agora vê se você veste de mansinho
Que de longe você é gente inconteste
E de perto, toca a espantar passarinho!
(Sumário).
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