De tudo Poesia

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Quando entrar Setembro

O começo de setembro é sempre gratificante, mesmo que a fronteira entre as estações ficou invisível aos nossos olhos e o equilíbrio do tempo é um estranho no ninho. Todo setembro nos remete à poesia de Rimbaud e o seu tempo de andanças no campo ou à música de Beto Guedes, pra não perder a brasilidade.

Não indiferente a nenhum dos dois, a poesia aqui transcrita é de Eduardo Galeano, escritor Uruguaio. O texto não fala de setembro exatamente, mas em seu interior nos parece encharcado de primavera pela sua tonalidade e inteireza, pela sua copa de flores e folhas, próprio das estações com os seus diversos parentes. Leiam aabaixo:

Parentela

Somos parentes de tudo que brota, cresce, amadurece, cansa, morre e renasce.

Cada criança tem muitos pais, tios, irmãos, avós. Avós são os mortos e as montanhas. Filhos da terra e do sol, regados por chuvas fêmeas e chuvas machos. Somos parentes das sementes, dos grãos, dos rios e das raposas que uivam anunciando como será o ano.

As pedras são parentes das cobras e das lagartixas. O milho e o feijão, irmãos entre si, crescem juntos sem problemas. As batatas são filhas e mães de quem as planta, pois quem cria é criado.

Tudo é sagrado e nós também o somos. Às vezes nós somos deuses e os deuses são, às vezes, umas pessoazinhas. Assim dizem, assim sabem os indígenas dos Andes.

(Eduardo Galeano em seu livro “De pernas pro ar”, Edit. L&PM)

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