Quando não tínhamos nada?
Melquiades tinha “abrobão”, um Ford Belina super inteiro, cor amarela e movido a gás, 1974. Daí o seu nome num aumentativo bem regionalizado. Na frente, Abrobão tinha somente a cadeira do motorista e das suas duas portas apenas uma era usada. Na parte de trás uma poltrona larga levava os companheiros. Esse carro era o mais amigo e mais conhecido da turma, apesar de outros companheiros depois terem outros veículos:
Adson tinha um fusquinha muito bom.
Zezinho tinha um opala, que não era dele, mas da familia; depois uma Belina moderna possibilitou muitas articulações políticas e campanhas eleitorais.
Iracy também tinha um fusquinha, mais desgastado que o de Adson, mas andava bem.
Saturnino nunca teve um carro.
Otavino andava de bicicleta e Manoel Alexandrino andava a pé sem nenhuma tristeza.
Zé augusto tinha um Fiat 147 que servia a muitos companheiros.
Batista também teve um fusquinha legal.
Anselmo tinha um Chevette antigo que ajudava e muito a todos nós.
Joel andava com um carro que ajudava a carregar os móveis da marcenaria de suas familia.
Já Melksedeque não, este andava em sua cadeira de rodas, animado como sempre, a deslizar pela cidade.
Minel, Levi, Ivonete, Michelena e muitos de nós nos virávamos para acompanhar o movimento.
Tínhamos todos, um sonho: mudar o mundo.
No mínimo sonhávamos em realizar mudanças estruturais que mostrasse a todos que estávamos no caminho certo, rumo ao socialismo.
Um dia a brincadeira acabou, o espelho se partiu e, cada um foi em busca de outras necessidades que não as suas formas de se (loco)moverem. E nessa dispersão, cada um esqueceu como era cada um.
Abrobão era um bom exemplo de prática socialista e somente quem conhece a trajetória histórica do seu serviço à boa causa de todos nós, compreenderá essa mensagem.
Dirigimos muito abrobão. Mais que isso, ele nos ensinou muito, assim como aprendemos entre nós a dirigir a vida e alguns dos seus desafios, até perdermos a carteira de bons motoristas e de bons sonhadores.
Deixe uma resposta