Da madureza do tempo

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Alvorada na Gameleira

A lua dealba a Serra Azul,

Uma estrelinha boêmia se esmaece no alto.

Canta o galo branco –

Mestre sala da alvorada no quintal da Gameleira.

Meu Pai bate o isqueiro na penumbra da antemanhã,

E o cheiro do cigarro de palha

Chega ao berço do menino que dorme.

O tempo é de infância.

Agora canta o galo pedrês. Mais outro canta.

A aurora deixa os porões da treva.

Suave, vem luz pelas frestas do telhado.

A noite se vai. Uma ou outra nuvem esgarçada no céu.

Passos leves afagam o dia no assoalho de cedro.

Daqui a pouquinho amanhece-não-amanhece,

O café da negra Veneranda é só fragrância.

Mesa de vinhático. Bule de esmalte.

Beiju, biscoito, bolo de mandioca.

Atrás do casarão azul familiar e amigo, murmura o riacho do sonho.

Traíras, bagres e piabas brincam no remanso das águas.

Cantam outros galos. Cacarejam as galinhas.

O sofrê faz poesia na manhãzinha de sol.

Preguiçosa e lenta a vida escorre da única praça

E das três ruas de minha mui amada e querida Gameleira.

(Geraldo Dantas)

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