Desordens do progresso

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A fé que se abala

Em maio de 1972 ela chegou em Eunápolis, com marido, filhos e esperança.
Rapidamente foi se inserido na comunidade e dando ideias, reunindo pessoas. Aos poucos foi nascendo a campanha para a construção da igrejinha de Santo Antonio, padroeiro escolhido para o Bairro. Era um tempo dificil porque fazer reunião era atividade suspeita, em pleno auge da famigerada ditadura militar.
Longe dos ideais comunistas e próxima dos princípios cristão, reuniu gente, fez campanha e deu inicio à construção da igreja. Ao longo de décadas ela traçou uma trajetória de compromisso e realização. A Igreja construida, algumas vezes remodelada, ampliada, teve momentos de sucesso em suas festas e quermesses, consolidou-se.
Passado os anos, o padre atual decidiu demolir por completo a igrejinha e sem demora fez tudo ir abaixo, em seu nome e da sua santidade o bispo da diocese de Eunápolis. Já não existia mais nada, nem história de comunidade nem respeito às decisões coletivas.
O padre e o bispo em sintonia com a estrutura mental das grandes obras, dos grandes prédios, das imensas salas e dos grandes altares, nem sentimentos tem, apenas quer ver a igreja cheia.
A proposta então é construir uma grande igreja, sabe-se lá quando, pois os apoios e doações são pequenos. Os jovens não se reunem mais, nem a comunidade. O local de alternativa, um salão em outra rua tem sido o espaço para o alento das senhoras religiosas.
O senhor bispo só tem em mente as grandes estruturas e igualmente constrói um prédio no centro da cidade, na sede da diocese que parece que nunca vai acabar, logo nos dias de hoje em que a igreja em muitos lugares tem vendido suas grandes estruturas e alugado seminários para outros fins, porque sumiu os fiéis doadores, a fé diminuiu, os cultos ganharam simbologias fundamentalistas e ares de esquizofrenia coletiva.
Mas o bispo é a autoridade de Deus – acha ele -, e prossegue em sua estranha realização.

Ela que viu tudo nascer e ruir nem pensa nisso e segue acompanhado a rotina da comunidade católica de seu bairro, quem sabe esperando o templo ser erguido e rezar com calma, lembrando de sua história e de um tempo que não volta mais.

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