Meninos na maré
Os meninos sabiam a hora certinha – sem saber da hora – que a maré secava.
De primeiro, quando chegava o verão a gente ia pra beira do mar, passar as férias na casa de Tia Eliete.
A gente pegava a Sulba, companhia estatal de transporte intermunicipal da Bahia e levava um isopor com picolés, porque na cidadezinha não havia sorverteria. Quando a gente chegava, muitos picolés haviam derretido, mas mesmo assim faziamos a farra! os amigos do verão passado se enchiam de alegria, já que somente tinham o prazer de saborear um picolé de ano em ano.
Como a hora da maré, os meninos amigos esperavam a nossa chegada.
Da casa de Tia Eliete o mundo brotava em cheiro, sabores e cores. Um casarão antigo que era uma aventura decifrar os seus caminhos.
Fruta-pão, Manga, Cajá nos indicava o mundo dos sabores.
A queijadinha de Tia Eliete – em latões guardada – de vez em quando era alvo de subtração marôta.
Não havia tempo pra pensar nas horas. O dia somente era percebido quando em tom de bronca, algum adulto falava: – Assim desse jeito, segunda-feira mando vocês embora!
Na lama pastosa da maré jogávamos bola, fazíamos amigos e crescíamos sem saber.
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