Nua e crua
Tudo é pressa.
O mundo pariu o homem ontem e este quer o fim.
Dizem que o planeta passou a girar mais rápido, o tempo do dia e da noite é outro.
“Ajuste-se.” – falou pra si mesmo.
Antes, quando eu nascia, meu mundo era o quintal e a varanda,
o que via, tinha gosto e cor de frutas, de terra, de verde, azul e amarelo.
O universo criativo estava sempre em expansão, a cada dia uma supernova descobria-me e a ela eu encantava com canções de ninar.
Olha que também a rua era uma palco imenso para brincadeiras de vento e aventuras de leão.
Hoje, restou-me a calçada, que acho estranho, em meio a carros, tiros, e gestos bruscos dos seguranças, ante a ameaça, o espectro do medo.
A rua foi invadida pelo medo e crianças não brincam mais.
O quintal foi invadido pelo concreto dos apartamentos e das árvores metálicas dos sinais das empresas de telefonia.
Que restou?
Um labirinto cheio de areia movediça.
Não se brinca mais. Joga-se no computador, afinal tudo é um jogo mesmo.
A TV nos deixa mudo e nossos administradores fazem de tudo para que a TV educativa, nunca entre no ar em sua casa.
Não sonhamos mais. Queremos uma arma possante, entre amigos, pois afinal tudo é um jogo mesmo.
O negócio é se dar bem.
Anda logo, que tempo é dinheiro.
E o mundo pariu ontem, mas na sala de parto está para nascer,
Nua e crua
O não-futuro.
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