MEMÓRIA
Já não me lembro mais.
E todavia foi o instante mais profundo
De minha adolescência.
Lembro apenas
Que havia sereno em seus cabelos
E uma canção subia
De seus ombros azuis.
Ou talvez fosse o céu,
Já não me lembro mais.
Sim, recordo, mas muito
Mas muito longemente,
Que era um medo em meu peito,
Mas do meio do medo
Se erguiam deslumbrados
E palpitantes pássaros.
E sobretudo lembro
Que de repente estrelas
E punhais desabavam iluminado um chão
Que já não era mais
O chão da meninice.
Já não me lembro mais.
Nem seu nome eu guardei.
(Thiago de Mello , no livro Faz escuro mas eu canto. Ed. Civiilização Brasileira 1985).
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