Memória e poesia

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A  velha Tomásia  quer  vê Deus –


A velha Tomásia quer vê Deus

Ela acha que já está na hora

Uma boa idade Pataxó pra ir s´imbora

Tem cento e nove anos e já lhe falta o ar, a pulsação diminui

O pensamento está lento e voltou no tempo,

O que a angustia  muito, pois ela lembra do tempo

Em que navegava entre flores e barcos na baía de Barra Velha.

Do tempo de guerra guerra e de quando deixou a aldeia fugindo do fogo de 51.

Agora ela só quer  vê Deus e ir embora de vez.

Apesar  do tempo , ela está alegre, leve, tranqüila

E ainda responde quando a chamamos pelo nome Pataxó,

Pouco and porque todo o seu corpo quer descanso

E seu espírito flutua na memória

E nas historias dos seus antepassados, impregnados em seu corpo e sua alma.

Deixa o cachimbo e a sandália,

Deixa o lenço da cabeça

Deixa o fumo que mascava mas não esquece do seu povo.

Ela mesmo diz: – quem quiser que esqueça, eu não.

E ensimesmada volta atrás e diz: – agora não importa a lembrança,

O que quero mesmo é vê  Deus.

* Poema dedicado a Tomásia, que fugindo do Fogo de 51, passou a morar em Cabrália, litoral  sul da Bahia, entre uma família de não-indígenas.

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