EXPRESSÕES CULTURAIS: O QUE HÁ COM O EXTREMO SUL?
A diversidade e números de grupos, movimentos, artistas independentes, casas de espetáculos e festividades de ruas, é grande, nas cidades do extremo sul da Bahia, mas nos intriga pela falta de reconhecimento – por parte das autoridades governamentais –, falta de produções locais e de programas que contemplem esse universo cultural amplo da região. Um calendário cultural anualmente organizado, que dê visibilidade às produções, com profissionalismo, com base técnica de equipamentos e, sobretudo, de clara proposta intervencionista, a contemplar as diversas linguagens. Sem alegoria politiqueira nem apologia ao consumismo. Um calendários das culturas e identidades populares.
Em parte, desconfiamos do papel nefasto do turismo, quando nos referimos aos grupos de tradição da cultura popular ligados aos folguedos e festividades religiosas. E de quebra, o conservadorismo e ignorância do empresariado local limitam qualquer possibilidade de incentivos, confundindo apoio pessoal com patrocínio na base da barganha. Lembra o apoio de políticos profissionais em tempos de eleição.
Por outro lado, é muito recente a intervenção do estado no interior e ainda se resume a contemplar projetos pontuais de instituições culturais, salvo raras exceções como Vitoria da Conquista e Ilhéus, cuja soma de recursos garante processos estruturantes, porém se limitando a propostas que o próprio governo estadual é o produtor cultural ou o município, no caso de Conquista – e não a sociedade civil.
Uma breve leitura do site oficial da Secretaria Estadual de Cultura – Secult/Ba mostra a capacidade produtiva do governo baiano e a sua real intervenção enquanto proponente das ações culturais. Com isso queremos dizer que a ‘propaganda’ acaba focada nas ações onde o governo tem dado peso maior, ou seja: na capital e no recôncavo, enquanto os outros territórios de identidades figuram ilustrativamente a Bahia (quando o site chama de interior, parece nos remeter ao recôncavo baiano).
Todos devem perguntar onde queremos chegar com essa reflexão.
Queremos apenas afirmar que é preciso – para compensar os anos de ausência de políticas públicas e reparar dívidas sócio-culturais – uma ação mais incisiva, sob a égide da lei e dos preceitos administrativos da esfera federal e estadual junto aos municípios, para concatenar ações e programas sócio-culturais que valorize as culturas locais sem folclorizá-las, sem subestimar sabedorias e sem impor verdades tecnicistas ou aliar programas e projetos a compensações mitigadoras dos atuais modelos de desenvolvimentos. Tendo clara a política de intervenção e qualificação, compor modelos coletivos de gestão entre os diferentes atores, consolidando políticas macro e exemplos de resultados múltiplos.
Ao mesmo tempo acreditar na ação dos movimentos sociais, dos grupos e instituições culturais, parte fundamental para a realização e sucesso de projetos culturais, primeiro, abrindo-se para o diálogo sincero e sem meios termos; segundo, criando conjuntamente as possibilidades reais de empoderamento dos grupos e entidades associativas, de bairros, escolas, por gênero, de gestão locais, regionais, etc.
Está claro que os governos locais se opõem de maneira clara a qualquer programa cultural altivo e valoroso, como a realidade exige. Porque não acreditam e não sabem que a cultura poderia gerar substancialmente bons recursos e fruição para a economia local. Porque não entendem a cultura criativa como um bem, cheia de possibilidades para a inclusão social e fortalecimento da cidadania, temerosos que são de ver um povo pensando e tomando pra si os destinos de municípios e do dinheiro público. Diante de muitos outros fatores, não priorizam nem vão priorizar a cultura por mais duas décadas. Somente em 2050 é que veremos mudanças nessa prática política refratária e colonial.
Foi e tem sido justamente essa prática paternalista, do “pires na mão” e interesse fisiologista, o principal entrave de qualquer mudança sócio-cultural no extremo sul. No caso da expressividade cultural escondida e de certo modo, ameaçada no extremo sul da Bahia, a tendência é isso perdurar por um tempo, difícil tempo de resistências e de indignação, mas um tempo criativo e de re-organização de muitos grupos culturais, do lado de cá do rio Jequitinhonha.
No caso dos movimentos sociais e culturais, se ainda permanecerem olhando os seus umbigos e não erguerem as cabeças e não abraçarem os que estão ao seu lado, será mais complicado a situação, quando então valerá muito mais a força do grito e o tráfico de influencia nos frios gabinetes de Salvador.
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