Já passou o tempo do Brasil folclorista, essa distorção sem o sentido ‘brasilis de ser’ que des-foca as expressões culturais do nosso povo, a partir de um olhar atravessado pelo preconceito e pela ideologia colonialista do tempo do império, das repúblicas eurocentristas, do fascismo colonial e das esquerdas positivistas. A América Latina ainda vive desse mal do olhar desfocado e de estranheza sobre as expressões, a diversidade, a riquezas das culturas originárias e das comunidades culturais autônomas, por mais hibridas em que elas se apresentem nos dias de hoje.
A aparente fragilidade conceitual das comunidades culturais e a serenidade dos povos autóctones ante um mundo em tormenta faz que os chamados ‘estudiosos das culturas e do homem’ julguem tais expressões, como subalternas e inferiores. Esse tempo já passou, foi superado. As culturas são diversas, dinâmicas, se modificam se autenticam, mas também se transformam nos tempos que seguem.
Porém ideologicamente existe uma frequente manutenção das expressões preconceituosas e colonialistas contra as culturas que resistiram ao colonialismo, à guerra e a arrogância do mundo moderno. Assim como as conquistas e os conquistadores tentaram impor uma cultura de deus e espada, céu e inferno, que não deu certo, os descendentes dos povos originários permanecem de pé, não forma vencidos e, consequentemente as suas expressões culturais também ainda permanecem, suas crenças, artes e visão do mundo. O colonialismo fracassou, apesar das sequelas de hoje. Descolonizar é o desafio; e começa pelas culturas, ato político urgente na atualidade.
As manifestações mais populares oriundas do campesinato brasileiro – no sentido de mais conhecidas e disseminadas desde os tempos da escravização -, as lendas e mitos, as crenças e pantomimas, estas são chamadas de folclores; se são algumas menos conhecidas estas também são estigmatizadas por algum verbete desmoralizante, na tentativa de esconder o tempo e a história de dominação, violência e escravidão, mal dos conquistadores cruéis, dos seus exércitos e suas igrejas.
Mas os tempos são outros. As culturas ganharam a dimensão que é a própria vida, e vida holística, polissêmica, integral, em permanente diálogo, transformações e contradições nos tempos e na história.
A questão é: como as escolas tem pensado essas mudanças, como tem atuado na construção do novo? Que contribuições têm chegado para superar a estrutura mental colonial e os equívocos pedagógicos que ainda insistem os educadores na maioria das escolas brasileiras? Qual o temor em se comprometer com o presente, o que pensa sobre o futuro?
As ações culturais buscam diferentes interfaces para a reflexão e os ativistas do Viola de Bolso Arte e Memória cultural estão atentos a isso, quer estimular a reflexão, o debate, para também poder encontrar caminhos e acertar o seu movimento diante de tantos desafios no presente.
Deixe uma resposta