Urbis ludibrium

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olho da cidade
olho da cidade

A cidade é de quem mesmo?

As cidades atuais estão cheias de gente, carros, lixo e violência. Desde a pequena até a grande cidade, cada uma em sua proporção mantem as suas contradições, que é a cara da sociedade, regida pelo sistema capitalista e a sua economia de mercado onde tudo é definido pelo dinheiro. As relações, antes de serem relações humanas, são de mercado e capital, de divisão de classes, apartheid e seleção econômica nas cidades.

Por isso as cidades são vítimas da agressão dos interesses comerciais particulares, como se fossem o quintal, o quarto ou a cama de dormir do sujeito que acha que detém o poder sobre o lugar. Acha que pode tudo. Menos cuidar, zelar e proteger. De cara, essa situação traz no rastro as reações dos diferentes segmentos, em forma de violência, de segregação, de desrespeito às identidades culturais, de proselitismos, de guetos, de desprezo ou espetáculo.

Eunápolis inspira cuidados e é espelho da doença que assola o país.

No aniversário de sua emancipação – 12 de maio – nada de novo sobre o sol. Para uma cidade apática, uma administração apática, sem iniciativas e sem sinais de saídas para os problemas mais cruciais.

Só um parêntesis: No campo das políticas culturais, um segmento que mais vem se destacando é o grupo que conceitua a cultura no âmbito da economia criativa e pinta algumas cidades com o emblema/termo de cidades criativas, por estas  conseguirem dar respostas a problemas através de iniciativas culturais, a impulsionar a economia local e sugerir mercados para novos produtos culturais. Longe de ser o ideal, este conceito não amplia direitos nem rompe a lógica do mercado, mas se destaca em alguns lugares. Que pode ser uma coisa interessante. Eunápolis está longe disso.

Mais alienante que a sua população marginalizada, os que se acham a ‘elite social’ na cidade, acha que detém em suas mãos a força motriz da história que trará à cidade – em seus condomínios de muros altos – o desenvolvimento que necessita(um presídio e mais polícia, por exemplo). Que  exemplo de desenvolvimento hein!

Os comerciantes locais, em suas entidades tipo CDL acham que detém o poder da cidade; os industriais em suas micro-corporações também acham que são os donos da cidade e utilizam de sua suposta potência para realizar agressões e burlar as leis; os profissionais liberais (advogados em seus clubes tipo OAB; dentistas, agrônomos, médicos, etc) também acham que são eles quem domina e determinam os rumos da cidade. Mera ilusão.

Mas Eunápolis é uma nau à deriva. O que não é de todo ruim. Porém o fenômeno da alienação e da ilusão nunca permitirá aos senhores dos segmentos sociais que se acham poderosos, um olhar mais apurado sobre a sua história e os rumos que a cidade deveria tomar para si. E assim  cada festa de lembrança da emancipação, não passará de jogo de cena.

O fato é que as linhas, ou melhor, os muros que separam os grupos sociais na cidade crescem cada vez mais. E ninguém se conecta, nem na comunhão nem no conflito. À deriva, ficamos todos nós buscando respostas que vem de longe.

De quem quer que seja a cidade, lutamos contra o reacionarismo que nela se instalou. E se ninguém mostra a cara no jogo de interesses, participa velada e ilegalmente  da disputa para não sair do espetáculo, enquanto a cidade pulsa barbárie e o bispo benze a mentira das lojas do centro da cidade.

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