CULTURA E LUTA NA SEXTA SEMANA DE ARTE DO VIOLA

MANIFESTO DA SEXTA SEMANA DE ARTE

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Senhoras e senhores, boa noite.
O Viola de Bolso agradece a cada um de vocês pela visita, pela presença, pela escuta. Esta casa tem recebido muita gente, sobretudo os pequeninos, meninas e meninos do projeto de ação criativa cultural realizado por nós, pelos jovens e pelas crianças que por aqui navega durante os dias da semana. A eles dedicamos esta VI Semana de Arte.
Lá se vão pouco mais de 30 anos de existência do Viola de Bolso e estamos de pé, seguindo os mesmos princípios que nos orientou quando surgimos, que foi a educação da escuta e a fé em mudanças, através das culturas, da música e das artes, em meio à fumaça dos anos de chumbo e da alegria de saber que a democracia era um sonho possível. Hoje os tempos são outros. Continua a luta dos movimentos sociais num contexto de dispersão e de reação conservadora, de confusão dos espíritos e de imposição da mentira midiática. Aos poucos as leituras vão se clareando para confirmar que a luta de classes ainda se faz latente e que precisamos de muito esforço para combater o preconceito, a homofobia, a ignorância e o egoísmo.
A sexta Semana de Arte acontece pela vontade de cada um de nós, como um momento especial de querer compartilhar o que aprendemos no ano, aproveitando a magia do encontro entre as pessoas e suas diferentes linguagens artísticas, comungando sonhos, revitalizando lutas.
Não é preciso aqui falar das dificuldades que se tem para realizar um encontro desse, da falta de apoio do poder público local, do descaso e do não reconhecimento do fazer cultural e do trabalho socioeducativo exercido pelo Viola de Bolso nestes anos em Eunápolis.
Por isso lutamos por políticas públicas de cultura, expressas em leis, em tratados, em planos de cultura, mas principalmente expressa nos direitos de cidadania garantidos na Constituição Federal.
Lamentamos que o poder público municipal não compreenda os procedimentos legais para garantir tais direitos(o direito de acesso ao financiamento público) para eventos dessa natureza. Lamentamos na verdade que o servidor municipal, aquele diretamente responsável no executivo municipal não tenha a capacidade de – ou por incompetência ou por desinteresse – viabilizar e garantir que seja cumprido tal direito, previsto na lei federal, na lei estadual e na lei municipal. Porém, em virtude da falta de mecanismos de controle social, de planejamento da gestão pública, aliada a esta incapacidade estrutural, os grupos e coletivos culturais, os artistas de modo em geral, são penalizados e deixam de realizar com melhor condições as suas propostas ou projetos de ação
cultural. Mas em meio a isso tudo, fazemos acontecer a sexta semana de arte, com mais carinho, com garra e com alegria, com a participação de todos voces, parceiros e amigos do Viola de Bolso, que doou uma tinta para a alegria das cores, uma impressão desse folder da programação, que doou papel, caneta, alimento ou hospedagem solidária para os nossos convidados. Em meio à velocidade do crescimento da cidade, a cultura exerce um papel fundamental na sociedade, porque é ela que traduz as nossas crenças e angústias, as nossas esperanças e o nosso cansaço. Somente não podemos esquecer da infância, tão ameaçada nos dias de hoje. É preciso ter a consciência que a proteção da infância traz a garantia de um jovem mais altivo e mais seguro de si, numa cidade em que perder jovens pela bala virou coisa do cotidiano.
E a cultura, com seus modos mais conhecidos, pelas artes e pela liberdade de se expressar, precisa ser garantida, deve acontecer em cada esquina, em cada praça, em cada escola em cada bairro. O educador, o agente público, o artista alienado, o empresário, as autoridades municipais, tem que reconhecer isso. A escola precisa se preparar para receber o mestre do saber popular, precisa ter a capacidade de recriar e compartilhar aprendizados, para não se entristecer e virar lugar de autômatos, como já vem acontecendo. Assim deve ser com outros lugares e instituições, sob pena de cada vez mais perdemos o sentido do amor e do respeito entre nós e com os outros, perdemos a infância, a textura da meninice, a potencialidade criativa, o calor do abraço e o que nos faz seguir caminhando.Passado esse tempo todo, continuamos aprendendo, valorizando a transmissão e o diálogo entre os
saberes. Acreditamos e lutamos. Realizamos.
Por isso esta sexta semana de arte acontece para cada um de nós, para a cidade e a sua memória.


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