Estamos realizando rodadas de discussões sobre a política pública de cultura, aliando temáticas que apresente e mobilize diversos atores sociais no conjunto da luta local. Isso motivado também pelo passivo da administração local em relação à cultura em sua diversas variantes. Abaixo, apresentamos o texto motivador da reflexão mais recente, no Viola de Bolso, de autoria de Ian, coordenaor do Coletivo Geni:
“A adoção de políticas públicas direcionadas a cultura assume um papel fundamental para o fortalecimento da democracia, a valorização das expressões identitárias e o desenvolvimento sustentável do nosso país. De tal forma, que pensar a ampliação destas políticas deve ocupar um papel central nos esforços de todos aqueles que atuam na construção uma sociedade mais justa, igualitária e democrática. Mas não há como pensar a cultura fora de um contexto mais vasto que inclui as lutas travadas cotidianamente pela juventude e pelos movimentos sociais contra a exploração, às opressões e a retirada de direitos.
Quando iniciamos o nosso coletivo, não nos articulávamos diretamente com a questão da cultura, e sequer fizemos debates mais aprofundados sobre a temática e a sua relação com a comunidade LGBT, à primeira vista às discussões acerca da sexualidade encaminhavam para maiores contatos com as áreas da saúde, educação e segurança pública, isso não significa que não enxergássemos a sexualidade por um viés identitário, mas acabávamos interpretando-a a partir dos processos de enfrentamento e resistência vivenciados pelos e pelas LGBT’s.
Após um intenso processo de amadurecimento e através de diálogos com o Viola de Bolso, quando organizamos o “I Sarau Quem Tem Medo de Homofobia: Artivismo Político” iniciamos um processo de compreensão da cultura enquanto um instrumento de criação e reconhecimento de valores e modos de vida, o que pode contribuir no combate à homofobia, na valorização de manifestações políticas e culturais LGBT e na preservação da memória e história dos e das LGBT e suas formas de organização. Ainda assim, podemos dizer que as experiências acumuladas através das vivências e modos de resistências LGBT’s contribuem para a formação de uma cultura propriamente LGBT que apresenta dissidências, permanências e reinvenções do cotidiano, da vida e das expressões identitárias. Não enxergamos tais relações de maneira isolada as teias de poder existentes na sociedade, de tal forma que do embate entre as formulações inclusivas de valorização da diversidade e reconhecimento das diferenças e as ações empreendidas por grupo conservadores e fundamentalistas surgem conflitos que podem alterar e reorganizar a correlação e provocar recuos no acesso a direitos e cidadania LGBT’s, daí a importância do fomento a políticas culturais LGBT’s que pode funcionar como mais uma estratégia de luta e fortalecimento destas identidades.
Os editais de fomento à cultura da SECULT, que são um importante instrumento de aplicação de políticas culturais na Bahia, tem sofrido severas críticas após unificar editais que contemplavam culturas identitárias. Após a seleção dos projetos em 2013 notou-se que apenas um deles possuía temática LGBT, o que para alguns ativistas limita a atuação destes movimentos. A ideia é de que possamos voltar a ter editais específicos para a comunidade LGBT ou que possamos ampliar a participação de grupos LGBT em outros editais.
As atividades culturais precisam caminhar por um viés dialógico e articulado com a sociedade, seja no desenvolvimento de projetos através das artes (dança, teatro, cinema, etc.), em um maior contato com instituições de caráter educacional, inclusive ampliando a nossa participação na luta contra projetos retrógrados como o “Escola sem Partido” ou no campo da comunicação e mídia quando podemos disputar espaços que visem a construção de representações mais positivas acerca dos e das LGBT’s.
Também faz-se necessário que pensemos a cultura partindo de conceitos que contribuam para a nossa luta enquanto sujeitos identitários pautando a criação de uma “cultura de paz” ou “cultura de respeito”, atuando para a construção de novas visões acerca das identidades sexuais que dialoguem com as diversas expressões e formas de conhecimento humano. Pois, como colocado por Leandro Colling “é preciso entender que tanto a Homofobia, a lesbofobia e a transfobia nascem, crescem e se cristalizam no campo da cultura”.
Precisamos, por fim, analisar a realidade local, enxergando a nossa cidade como uma propulsora de ideais neoconservadores que atingem a vivência e a auto-estima de pessoas LGBT’s e outras minorias. Se por um lado, enxergamos o processo de luta e resistência de uma parcela do nosso povo para a preservação e reconhecimento de expressões e identidades culturais, por outro, assistimos ao assustador crescimento de grupos que atuam de maneira hegemônica e violenta para a consolidação de contrarreformas que visam suprimir as diferenças, atacar e mercantilizar a cultura, retirando-lhe o que lhe é mais belo, a sua DIVERSIDADE.”
IAN, Coletivo Geni em Eunápolis.
Deixe uma resposta