Primeiro de maio. Uma missa na catedral celebra a data tão significativa para os trabalhadores do mundo. O bispo fala e agradece a cada trabalhador por doar o seu suor e o seu sangue ao patrão, à empresa, ao estado e à igreja. Graças a isto, está salvo no reino dos céus. O capitalismo precisa dessa benção, louvado seja o estado que regula tudo isso e a igreja que abençoa.
A professora aplaude e se benze, o executivo fecha os olhos e sonha um serviço nos céus, enquanto o padre oferece o corpo de cristo. Açoitado, explorado, vendido, rejeitado, assassinado. Para outros equvocados, o primeiro de maio é para se oferecer brindes e realizar shows de duplas de música sertanejas. Mas nem isso acontece em Eunápolis, a não ser a missa.
Naqueles instantes em todo o país, ou em parte dele, manifestações eclodem exigindo a libertação do primeiro preso político após o fim da ditadura que vivemos entre 1964 até 1985, preso este que não por acaso é Luiz Inácio LULA da Silva. As manifestações do primeiro de maio não são tão somente por LULA LIVRE, mas contra o novo golpe instaurado em 2016 que tomou de assalto o governo legítimo de Dilma Rousseff e criou o rastro de violência e ódio contra os jovens trabalhadores, os direitos dos povos originários, dos qulombolas, a ameaça e o corte dos direitos sociais e a quebra dos direitos culturais do povo brasileiro.
Eunápolis não aprendeu nada com a história. Nem com a sua história nem com a história do Brasil.
Nem as agremiações de classe, nem os sindicatos, as associações e cooperativas, os grupos de jovens, estudantes universitários nem os mais explorados dos mais explorados sairam às ruas em Eunápolis. Um ato sequer, uma reunião, um filme na sede do sindicato, um grito de “fora Temer” ninguém ouviu.
O whatsapp alivia os pecadores de classe em sua zona de conforto, basta ali no grupo gritar bem alto, em caixa alta ‘fora temer’ e ali mesmo postar a última notícia da uol ou xingar a globo, e tudo está resolvido, missão cumprida.
A cidade vazia de si mesma. No dia em que os seus trabalhadores poderiam ter a oportunidade de refletir, vivenciar instantes de formação e de alerta sobre o que está acontecendo no País. Mas a cidade não é por si só protagonista nem refratária de suas emoções ou dos seu saberes, a entender o seu lugar na história. Por isso existem os sindicatos, as associações, os grêmios, os estudantes, os jovens rebeldes a gritar bem alto pelos seus direitos e pelo seu lugar no mundo, contra a opressão e a exploração, contra o preconceito e contra a violência que dizima negros, contra o machismo que violenta as mulheres e contra a homofobia. Essa mediação consciente poderia garantir menos temor e mais ousadia, menos corporativismo e mais solidariedade, menos baque surdo e mais escuta, menos egoísmo e mais abraços.
O vazio da cidade é o vazio de nós mesmos, que não temos a coragem de ocupar as ruas, ocupados que estamos em postar apressadamente o que nem lemos direito no feicibuk do outro, mas que me traz um alento e a ilusão de que tenho um lugar ao sol, um lugar no mundo. Ainda que a opressão continue.
Quem sabe no próximo primeiro de maio, o segundo dia seja a notícia da revolução.
Enquanto isso, Eunápolis dorme.
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