Alerta

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quadro do Ipea

Mais uma vez Eunápolis figura nos índices de cidade mais violenta, a segunda no Brasil. Isso não é novidade, infelizmente. É trágico.

Nesta sexta, 15 de junho, o jornal o globo da Bahia publicou matéria sobre um estudo feito pelo Ipea e pelo Fórum brasileiro de segurança pública, em 2016 e divulgado agora. Estar em segundo lugar no ranking de cidade mais violenta é um sinal para a sociedade local e um alerta que não chega às autoridades eunapolitanas, porque elas estão distraídas, ocupadas em contabilizar seus negócios particulares.

Esta posição de segundo lugar repercute muito mal para todos nós que moramos em Eunápolis, mas sobretudo exige um posicionamento, no sentido de superar essa marca, e, – se não revertê-la -, no mínimo buscar compreender os fenômenos que que levam a isso.

As desigualdades são os principais fatores, levando em conta a ausência de políticas públicas de verdade e um estado ausente em muitas coisas.

O que nos chama a atenção é a reação dos setores da segurança pública vinculadas ao estado em um site de Eunápolis contestar os números e tentar justificar o injustificável. Para justificar, as autoridades da polícia citam medidas que foram implementadas no campo da segurança pública, sem reportar às políticas públicas de direitos humanos, educação e cultura, que ficam em quarto plano.

Em 20 de março de 2017 o governador da Bahia Rui Costa, chegou a reunir a portas fechadas em hotel de Eunápolis para tratar da situação de violência na região, no âmbito de um programa difuso intitulado “pacto pela vida”, que preconiza reduzir os índices de criminalidade, mas não diz exatamente como. Veja aqui

O curioso é que, quem deveria reagir com indignação a esta realidade seria a sociedade, na busca por melhorias sociais e exigir que o estado cumpra as suas funções, de proteger o cidadão, oferecendo a todos, o acesso à educação pública, à cultura, saude pública e a garantias dos direitos no estado democrático. Principalmente que adote as providências e discuta com a sociedade um plano de atenção social nos bairros mais afetados pela violência e pela falta de programas sociais.

Já tecemos críticas e análises sobre a cidade, mas a ressonância de quem busca refletir as condições sociais dos trabalhadores, das famílias e dos jovens, não tem ocorrido. A escola não acredita na capacidade dos seus alunos jovens em criar o novo; a igreja não evoca a crença e a fé através da justiça social e da promoção da dignidade humana. E nenhum deles, ninguém, acredita na força criativa e no papel que a cultura tem em processar mudanças e realizar novas atitudes. Sem uma política cultural, a cidade vai sucumbir na mediocridade, na violência e no emburrecimento de seu povo.

O que resta é a penitenciária como escola da morte; as drogas como armadilha para segregar jovens e levar ao crime; a banalização das relações pessoais e o ódio ao diferente; o monocultivo, o deserto verde extinguindo a diversidade de culturas tradicionais e uma parcela pequena de ricos, na sociedade que acha que tem o poder e manda na cidade. Ali mora a indiferença.

Em outros momentos nós, que atuamos no campo da cultura, da política cultural já refletimos e convocamos a população a se posicionar frente a essa indiferença das instituições publicas e privadas de Eunápolis, que nunca enfrentou nem parece desejar enfrentar essa realidade que afeta todos, passam os dias e anos, se transforma em sangue nos jornais e sites da cidade, vira números, índices elevados, a interromper o nosso sono.

Quando algum evento ou posicionamento ocorre, vem carregado de preconceitos, equívocos conservadorismo extremo. A visão por exemplo, sobre os Direitos Humanos(DH):

A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. Direitos Humanos são os direitos do homem. Diria que são direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema.

Podemos afirmar, portanto, como já o fizemos em trabalho anterior, que entende-se por Direitos Humanos, aqueles direitos inerentes à pessoa humana, que visam resguardar a sua integridade física e psicológica perante seus semelhantes e perante o Estado em geral. De forma a limitar os poderes das autoridades, garantindo, assim, o bem estar social através da igualdade, fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discriminação.

Em contraposição aos direitos humanos, parte da sociedade faz um discurso agressivo e nocivo para todos nós e para o futuro, ao equivocadamente limitar-se ao tema da violência urbana, do latrocínio e de outros crimes relacionados ao desequilíbrio psico social, clamando por mais polícia nas ruas e ampliando os seus muros com arames de guerra.

Lamentavelmente, a conjuntura brasileira do golpe que se instalou a partir do congresso nacional inverteu a lógica social, educacional e cultural que dava passos pequenos nos governos democráticos de Lula e de Dilma Roussef, mas que tinha grande alcance e perspectiva de futuro, na medida em que a sociedade, sobretudo a sociedade organizada nos movimentos sociais ia madurecendo a ideia e o sentido de democracia.

Pro caso de Eunápolis, a cidade não reconhece na cultura um dos principais fatores de desenvolvimento e garantia social. Nunca irá reconhecer, se perdurar essa limitada visão da vida e das relações culturais. A escola formal, a educação escolar ainda se limita a moldar o sujeito ao sistema atual e fazer da pessoa uma mercadoria barata, um produto descartável, quando não nega a ela o direito de acessar aos bens sociais e culturais que poderia fazer dela, um sujeito criativo, dado ao compartilhamento à solidariedade e ao trabalho coletivo.

Dados do IPEA aqui

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