Narrativas de mato
Dia 06 de novembro, terça feira da Consciência Negra.
A lembrança vem com força na cabeça. O ano era 1972 quando cheguei aqui, no povoado que havia recentemente passado a se chamar Eunápolis.
O que chamava a atenção era a movimentação de trabalho dos negros, famílias próximas à nossa casa.
Seu Zuza, preto de mais de sessenta anos, que mantinha uma ‘venda’ de variedades e detinha um repertório de palavras estranhas ao meus ouvidos e inúmeros causos de aventuras das caçadas que realizava nos arredores do povoado: matas, córregos e distâncias compondo a geografia da memória de seu Zuza. Logo ele decidiu “virar crente” – termo utilizado para quem se converte à religião evangélica -, parou de caçar, mas continuou a contar as histórias de caçadas surreais.
Seu Zuza tinha aquele estereótipo do ‘preto velho’, era o próprio, com a sua voz grave e o sorriso largo, todos os dias, a nos lembrar do segredo que não contava a ninguém:
Ele dizia baixinho para o meu irmão mais novo, como quem falava de sonhos:
– Óia, conte a ninguém não, mas deus nasceu na África. Tu ouviste falar em África? E marquinhos pequenininho: – não. Ele só ria. Sorria mesmo…
p.s. – seu Zuza morava na esquina entre a praça do gusmão e rua frei coimbra.
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