Eunápolis de pretos

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Eunápolis, cidade supostamente embranquecida às custas da exploração da mão de obra, da opressão contra os negros, da negação de sua origem cultural e do pilhamento dos seus bens naturais.

Mas a tentativa de embranquecimento não vingou.

Eunápolis é uma cidade de pretos.

Ate o fim da década de 1970 o povoado de Eunápolis era formado por 95% de pretos.

A constatação disso, pode ser vista nas manifestações culturais de fé e de festejos, seja do carnaval, seja da devoção a santos como Cosme e Damião, São Jorge ou até mesmo nossa Senhora da Conceição, celebrações de fé e canto assistidos e visto no período citado.. Casas de rezas, Terreiros, curadores, vaqueiros, apanhadores de água, lenhadores, ferreiros, pequenos agricultores, donos de porções de terra que os bastavam ou donos de casas na Eunápolis crescente, eram eminentemente, pretos.

A concentração de grupos de famílias extensas a viver no povoado e ali construir o futuro, são de pessoas vindas de cidades mineiras da beira do rio Jequitinhonha, do recôncavo baiano ou do norte da Bahia; muitas família vieram fugindo da seca ou jovens rapazes se aventuravam em busca de sonhos e novas frentes de trabalho. Também estes, tinham origem etnicamente mais definidas, advindos de comunidades indígenas ou quilombos desfeitos pela expansão agropecuária em suas diferentes regiões.

Os poucos brancos vem depois.

O ápice da exploração madeireira no final de 1970 e começo da década de 1980 é que vai trazer uma leva de capixabas, grupos de famílias brancas, de herança italiana, alemã e holandesa que se instalam nas cidades do extremo sul da Bahia, desde Teixeira de Freitas até Eunápolis. Sobretudo muitos grupos de jovens trabalhadores empobrecidos no processo migratório e que agora encontrava na exploração da floresta atlântica uma possibilidade de sobrevivência, de constituição familiar e de geração de renda. Alguns conseguem na exploração da madeira e de mão de obra barata, a acumulação de riqueza.

A imigração europeia adotada pelos governos brasileiros ao longo dos séculos já havia se consolidado em diferentes regiões do Brasil, sobretudo no sul do país. O sudeste, São Paulo, Rio de Janeiro e o Espirito Santo também ocupam dados relevantes nas estatísticas sobre o espalhamento dos grupos de imigrantes. Segundo diversos historiadores e analistas sociais, essa era uma política adotada pelo estado, de branqueamento do tecido social brasileiro, em detrimento das origens indígenas e africanas, tão decisivas e inevitáveis, como vai indicar o futuro.

Eunápolis não figura nesses estudos, mas faz parte do avanço dessa ideologia fascista no país, como se vê até os dias atuais. Até meados de 1980{antes da nova Constituição Federal, promulgada em 1988}, a ideologia dominante contra os povos originários era que estes{os verdadeiros donos do Brasil}, seriam extintos, desapareceriam, integrados que seriam – forçadamente – à sociedade supostamente branca brasileira. Um horror.

Agora você imagina quais eram os planos para os pretos!

Como disse, a CF de 1988 e depois as eleições de 2003, com a chegada do governo Lula e as suas políticas sociais, de garantia dos direitos e políticas afirmativas, reconhecendo a diversidade de culturas, é quem vai impedir{ou arrefecer, porque convenhamos, a classe dominante ainda encontrava respaldo no governo instalado} de certo modo, que os planos fascistas fossem aplicados. Mesmo com o governo Lula e as ações de reparação e afirmação de direitos, os algozes passeavam livremente entre os gabinetes….

O caso de Eunápolis

Infelizmente é real a afirmação que Eunápolis embranqueceu mentalmente nas últimas décadas e junto a isso trouxe um rastro de segregação e conservadorismo visível na relações de trabalho, no comportamento religioso, na expressão social urbana e na reação negativa aos pensamentos de liberdade e diálogos culturais, de política e de comunicação progressistas. Falta respeito às diferenças e falta o reconhecimento da diversidade de culturas, de opiniões políticas, beirando à hostilidade no trato com as liberdade individuais ou coletivas de expressão de gênero, gosto musical, agremiação comunitária tradicional, etc e etc infelizmente.

Eunápolis, sem exagero, só falta ter um braço da Kux kux kuklan, porque tem grupos que defendem a volta da ditadura militar, desejam o apartheid social e tem em Bolsonaro, a salvação da “pátria.” Isso explica a vantagem da direita sempre em Eunápolis, o conservadorismo, o preconceito e a hostilidade ás liberdades individuais e coletivas.

Em Eunápolis a direita sempre levou a maioria dos votos. Por isso não foi surpresa se o coiso ruim teve maioria aqui no primeiro turno e quase tem no segundo turno. Lamentavelmente.

E lamentavelmente Eunápolis foi a única cidade em que o candidato da direita teve a maioria dos votos,contra a campanha de Rui Costa, do PT.

Uma pequena burguesia ascendeu e se instalou na cidade, tentando dominar a política, a economia e a imprensa local.

São eles que tentam passar essa ideia de branqueamento.

E enganados por isso, muita parte dos empobrecidos seguem essa tendencia, de conservadorismo, preconceitos e apatia, frente a necessidade de mudanças reais. Subalternizados, repetem os gestos dos que se acham donos do poder. Ainda que pretos sejamos todos nós, na origem e na maioria presente.

Olha a consciência, preto!

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