Organiza negro!

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Ausência de protagonismo e organicidade do Novembro Negro em Eunápolis?

“escola é escola

luta é luta

e guerra é guerra.

Estou preparada para todos o momentos,

porque cantei e canto com a minha boca.”

(dos cantos pretos que fiz).

– Dona mocinha-

Deixa eu dizer uma coisa: logo no começo da programação do Novembro Negro fiquei a refletir e a me perguntar por que nessa região as atividades da semana da consciência negra ocorrem tão dispersas e em territórios limitados, em nichos, em bolhas? E qual o seu grau de protagonismo negro e indicadores de resultados pedagógicos, políticos e socioeducativos?

Três perguntas em uma, exigem respostas separadas, que não serei eu a respondê-las.

Primeiro, porque deduzo e reflito, não afirmo isso como um problema, que efetivamente não é, já que a suposta pulverização/dispersão indica movimentações em diferentes direções em conteúdos específicos, acadêmicos, empíricos, discursivos, denunciantes e celebrantes, ou como diria caetano, “Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico.”

já essa ideia de ‘territórios, nichos ou bolhas”, é real, porque foi visto e percebido, por exemplo em Eunápolis. Cada um no seu quadrado.

O IFBA fez uma programação extensa, ao seu modo e no âmbito da escola, ainda que tenha tido convidados externos, lideranças políticas religiosas ou pesquisadores… A UFSB da mesma forma e parece que a Uneb campus XVIII também vem numa programação parecida. Evidente que sabemos das iniciativas dos professores negros ou de colegiados específicos e dos grupos de estudantes, cuja presença negra é visivelmente atuante.

A segunda questão que levanto aqui, tenta identificar(na organização dos eventos), a presença dos atores sociais do povo preto propondo, protagonizando, criando, inventando essas atividades/eventos na cidade e só encontramos a Caminhada contra a intolerância religiosa ocorrida dia 18 de novembro/2022, manifestação do bairro Pequi ao centro de Eunápolis, articulada pela Associação de Terreiros de Eunápolis.

Os demais acontecimentos foram promovidos(e muito bem realizados e legitimamente necessários!) por outros sujeitos sociais, sejam aqueles vinculados a escolas públicas(principalmente as universidades) ou ong’s locais. Em todos os eventos/atividades, tiveram a presença marcante de lideranças/representantes do povo preto.

Na terceira questão aqui levantada e à qual não respondo, com certeza tem reconhecida relevância e importantes ganhos políticos a realização dessas atividades.

Uma movimentação visível, não tão intensa, mas marcada pelos temas que estão nas pautas das lutas dos negros no brasil e de muitos dos movimentos negros organizados.

O Viola de bolso por exemplo, fez uma reflexão acerca da ausência(não existência) de um movimento negro organizado em Eunápolis. Este, não existe, muito embora movimentações políticas e culturais realizadas por grupos afros, ocorram sempre.

Por que isso? Em que medida, tempo e espaço o movimento negro tem força política em Eunápolis(ou até na região) para se afirmar enquanto protagonista de ações que projetem mudanças e que alcance organicidade e se torne núcleos organizativos próprios, na escola, no sindicato, no coletivo cultural, etc.

Qual o papel do movimento negro organizado, senão o de afirmar pautas e demandas para a sociedade e para seus membros em diferentes espaços de fala e de protagonismo?

É a demanda da lei 10.639 que faz a luta, por exemplo? Ou é a luta que exige a garantia de diversos marcos legais no avanço contra o preconceito e afirmativas de novas relações sociais, culturais e políticas nessa sociedade escravocrata e patriarcal?

A pauta insurgente para os diferentes setores do povo preto em Eunápolis, é sem dúvida a criação de um movimento(ou movimentos) organizados, em vistas de plano de ação elaborado, em protagonismos, em pontuação de diálogos e interlocução político-institucional e, claro, em diversidade e afirmação cultural.

Veja o exemplo do povo de terreiro: logo após a agressão e crime cometido contra o Terreiro Logun edé, no bairro Juca Rosa, além de o ocorrido mobilizar diversas manifestações de solidariedade a mãe Luziene e todos de sua casa, repúdio contra os agressores e pedidos de justiça pelos crimes, os terreiros tão logo se juntaram e realizaram uma Caminhada, em resposta à intolerância e ao preconceito. E o que fez depois os atores dessa movimentação? – criaram imediatamente a Associação dos Terreiros de Eunápolis, buscaram reconhecimento e já realizaram laives, reuniões, intervenções no legislativo local. E protagonizaram a 2ª Caminhada contra a intolerância religiosa e todas as formas de preconceito, por ocasião do Novembro Negro de 2022. Após a caminhada, foram confraternizar, num almoço coletivo, em agradecimentos e satisfação. Prática exemplar.

Tudo que uma escola precisa, para ‘indicar, orientar’, que os seus alunos participem desse aprendizado necessário, complemento indispensável aos estudos, assuntos e orientações que a lei exige. Infelizmente perdemos a oportunidade, inclusive de inspirar unidade e força política, porque os comentários que mais se ouvia era: – cadê o povo que diz que tá do nosso lado.

– Sumario Santana.

22/11/2022.

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