O ESPAÇO CULTURAL DESCORTINA MUNDOS

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“Ainda somos os mesmos, mas vivemos diferentes,

vemos diferentes, respeitamos as diferenças, mas não temos escolha:

ou ficamos indignados ou ficamos indiferentes,

ou lutamos juntos, ou sucumbimos.”

Para além da arte, a cultura.

Descrição da ação: tempo, espaço e sentidos.

“A arte é o pingo de tinta na tela.

Cultura, é a tela inteira, colorida.

Cultura é o prego que fixa a tela na parede,

a parede;

A mulher e o homem que olham extasiados a arte na tela,

é a integralidade da cultura, frente a

uma arte que questiona os sentidos em uma cultura que busca sentidos permanentemente,

ainda que só encontre mistérios.

É desse momento no tempo e no espaço, que falamos.”

Espaço cultural não tem tempo nem intervalos,

sempre preenche interstícios,

sempre cria pontes nos interregnos, está sempre vivo ou, sempre viva.

Nele(no espaço cultural) o que povoa as suas estruturas são as experiências coletivas, também as emoções, assim – diferente -, de outros lugares, como no centro de cultura, ou como na galeria de arte, ou no museu e na biblioteca. Aliás, o centro de cultura, a galeria de arte, o museu e a biblioteca, todos tem horas marcadas. No espaço cultural não.

O espaço escolar é o tempo/lugar que mais poderia se aproximar desse encantamento que é o espaço cultural(o universo imaginário que pode surgir, pela presença da infância, de jovens ativos, de pessoas ávidas pelo saber, na escola), ainda que fragmente sua dinâmica em turnos, em grades curriculares, com porteiro/vigia na entrada e com muros altos que dão sensação de aprisionamento).

Assim como a cultura(suas interfaces e seus dinamismos) o espaço cultural é feito de cotidianos, assim mesmo, no plural, sem repetições, sem cópias em série, nem forma uniforme nem fôrma multiplicadora. E assim é feito, sendo elaborado e em elaboração, fazendo-se e sendo feito permanentemente e a cada dia, seja pelos relatos que chegam aos ouvidos e à pele, seja pelos exercícios realizados na hora em que a pergunta não espera resposta ou pelo acúmulo e narrativas que vão embora brincar em outro lugar, para retornar em seguida, no outro dia, como memória viva, um brinquedo ou um poema, ou um livro inteiro, ou uma pesquisa, um tsuru, um acarajé, ou um pote de barro.

Sem querer falar mal, tudo é um risco

Repare você que no Centro de cultura, o espetáculo musical ou teatral, é, por si só, o produto final, o ponto final. Claro, tem sua importância, seu valor e adveio de uma experiência, tem seu valor simbólico, e tem preço. Mas sobretudo, é uma mercadoria, disputada pela lei da oferta e da procura, com o seu preço taxado pelo mercado seletivo, correndo o risco de ser antidemocrático, excludente e vazio. Em cada lugar desses, são pessoas que atuam e se movem em suas realidades, exigências, gosto e necessidades. Veja você o rádio, esse poder comunicador que tem, democrático e aberto. Mas quem define a sua programação? Aquele lixo de bobagens que ouvimos dia a dia ou aquele sonoridade maravilhosa, tem origem em uma programação pensada ou aleatoriamente definida, que tatua e demarca comportamentos, bom gosto ou desinformação, lamentavelmente, tem um preço caro e baixo, ou, alto e nefasto. A frequencia sonora enoja, com tanta blasfêmia e confusão nas informações copiadas.

Por isso há que sermos exigentes com nós mesmos e com os outros, com carinho e respeito, senão o nivelamento entre nós, a sociedade, o estado, o conhecimento e a história, será por baixo, em uma situação de desesperança, agressão, ódio e intolerância, uma aproximação virtual e uma distância e solidão real.

O que vai(ou pode) determinar o grau de risco é justamente o contexto, a realidade em que isso(essa experiência) ocorre: Se numa ampla democracia, todos estes fenômenos estarão sujeitos a acontecer, a disputar espaços e narrativas ou quiçá, a exigir o lastro(no caso aqui, de políticas culturais ) que vai permitir públicos para todos as tendências e valores, muito embora as desigualdades continuem e os conflitos longe de se dissiparem, se alimentam na luta por hegemonia ou contra-hegemonia.

Porém se os fenômenos ocorrem em um regime autoritário ou de profundas desigualdades e democracia frágil, as culturas e os seus sujeitos coletivos também estarão ameaçados, salvo as lutas de resistências e afirmações territoriais e projetos autônomos.

O mercado tem medo de correr risco, porque aparentemente forte, é frágil.

A cultura é por si, a riqueza e o conflito.

O espaço cultural é o lugar do encantamento: ali, onde cabem as artes e as angústias, cabe tudo.

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